Revitalização da Antiga Rodoviária sob a ótica da gestão pública

                   O condomínio possui 235 salas comerciais

Entrevistado pela equipe do T’Amo na Rodoviária, o ex-prefeito, Nelson Trad Filho elenca os projetos que apresentou durante sua gestão


O encerramento das atividades do Centro Comercial Condomínio Terminal do Oeste (Antiga Rodoviária), em 31 de janeiro de 2010, desencadeou um processo de esvaziamento urbano e social que até os dias atuais não foi resolvido e que deixa apreensivos os comerciantes da região e os moradores do entorno. Com objetivo de apresentar uma avaliação abrangente e que contemple todos os aspectos envolvidos no processo urbanístico da cidade, o projeto T’Amo na Rodoviária realiza uma série de entrevistas e tomadas de depoimentos, com personagens que possam fazer uma análise sobre as alternativas que podem ser tomadas a fim de revitalizar o empreendimento, que por 37 anos foi um dos principais pontos de circulação dos moradores de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. 
Médico e ex-prefeito de Campo Grande, Nelson Trad Filho


O médico e ex-prefeito da Capital, Nelson Trad Filho, acompanhou a mudança, enquanto cidadão campo-grandense e como gestor público. Ele lembra que a transferência dos serviços de transporte de passageiros para o Terminal Rodoviário Senador Antônio Mendes Canale, localizado na saída sul da cidade, atendeu a necessidade de reorganização da mobilidade urbana dos ônibus intermunicipais e interestaduais. “O processo de esvaziamento do prédio que abrigou o terminal Heitor Laburu foi rápido e exigia da administração pública a busca por soluções que mantivessem a movimentação e a permanência das pessoas. O primeiro passo que tomamos foi realizar um diagnóstico econômico social para verificar que projeto poderíamos apresentar. No entanto, a principal dificuldade está na constituição dos proprietários, visto que uma fração de estabelecimentos pertence aos herdeiros da família Laburu, outra a diversos empresários que na época adquiriram uma sala comercial e por fim, a última e menor parcela é de propriedade do município”, argumenta Trad. 

Projetos – O ex-prefeito detalha que a primeira ideia a ser apresentada foi a transferência do Camelódromo localizado na Avenida Noroeste - entre a avenida Afonso Pena e a Rua XV de Novembro - há poucos quarteirões do prédio. Foram realizadas reuniões com os permissionários do complexo comercial popular a fim de mostrar o que poderia ser feito em termos de benfeitoria. “Explicamos que construiríamos no espaço pertencente ao poder público, uma estrutura com box individuais, climatizados e com amplo espaço de estacionamento. No entanto, a maioria dos comerciantes não aprovou e lembro até hoje do placar: 53 foram contra e 47 a favor”, revela. A segunda alternativa foi atrair investidores para desenvolver atividades educativas e a administração da época conseguiu conquistar o interesse de uma Instituição de Ensino Superior com sede no estado do Paraná. “O intuito era trazer para o prédio um empreendimento que tivesse alto fluxo de circulação de pessoas, aproveitando ainda para incrementar o movimento na região central, mas, também não deu certo”, lamenta. Uma terceira opção surgiu e partiu do poder judiciário. Trad conta que recebeu a visita da desembargadora que na época era presidente do Tribunal Regional Federal, da Seção Mato Grosso do Sul. “A doutora Marly me apresentou uma oportunidade de parceria, pois, tinha interesse de levar as atividades do tribunal para o prédio da Antiga Rodoviária. Ficamos muito animados com a possibilidade, mas, em função da quantidade de materiais que são armazenados no local foi preciso solicitar a avaliação do Crea/MS que atestou a impossibilidade do funcionamento do tribunal”.
O gestor conta que os dois pisos onde funcionariam as salas de atendimento não suportaria as toneladas de processos e ainda os equipamentos necessários ao trabalho realizado pela instituição. 
Por fim, o projeto que foi desenvolvido no espaço do órgão municipal e que se localiza na área em que funcionava o embarque e desembarque do terminal foi a construção de uma unidade central de operação da Guarda Municipal de Campo Grande. “Instalamos ali um posto de apoio, que inclusive conseguiu mitigar a proliferação de traficantes que se utilizavam da baixa ocupação para comercializar e consumir substâncias tóxicas”, pontua. Lembranças – Nelson Trad Filho é natural de Campo Grande e conta que frequentou por muitos anos a Antiga Rodoviária e recorda momentos que ficaram na memória de grande parte da geração que morava na cidade, na época. “Na minha adolescência, a rodoviária estava no auge e eu adorava ir no cinema, jogar fliperama e encontrar com meus amigos. Era um lugar que todos gostavam de frequentar e um fato interessante e que acredito, muitos irão lembrar, quando algum membro da família ou amigo viajava, todos queriam levar o viajante e aproveitar para lanchar ou passear”, relembra saudoso. Resistência e fé – Na avaliação do ex-prefeito, os comerciantes que permanecem até hoje no local são verdadeiros heróis e acredita que estão desempenhando um papel de luta que deveria ter mais apoio do poder público. “Vejo com muito bons olhos as ações de grupos independentes e dos próprios comerciantes, que com perseverança trabalham para promover uma revitalização cultural e social da Rodoviária. 
Festa da Solidariedade, uma das ações realizadas pelos
 comerciantes e parceiros da Antiga Rodoviária


Acredito na força do exemplo, e, enquanto médico faço uma analogia com o tratamento de acupuntura. Quando uma pessoa faz esse procedimento deve recordar que o profissional utiliza determinados pontos do corpo para espetar a agulha não é mesmo? Então, a energia curativa se irradia para as demais partes do corpo e é isso que estas pessoas estão fazendo ao tomar a iniciativa de revitalizar este local que fez parte da vida de tanta gente”. No entendimento do ex-gestor é preciso unir esforços entre proprietários e poder público, para que possam retomar as atividades do prédio que segundo levantamento feito na época, possui a melhor localização da cidade e o maior espaço para estacionamento. “No diagnóstico feito por minha equipe identificamos esse diferencial na região. É preciso que o local seja incluído no projeto de revitalização do centro aprovado recentemente pelo governo federal. Eu tenho certeza de que o antigo terminal Heitor Laburu pode ser planejado para ser o portal de entrada do centro revitalizado”, finaliza.
*O ex-prefeito Nelson Trad Filho é um dos personagens “reais” que aceitou participar do documentário e que estará no material audiovisual. Acompanhe conosco a história, opinião e avaliação de profissionais que podem contribuir para a mudança da Antiga Rodoviária, um local que faz parte da jornada de muitas famílias de Campo Grande e do interior do Estado.



Texto: Aline Oliveira - DRT 044/MS
Fotografia: Cátia Santos