Antiga Rodoviária: protagonista da história e desenvolvimento de Mato Grosso do Sul

Antiga Rodoviária: protagonista da história e desenvolvimento de Mato Grosso do Sul

Com quase quatro décadas de funcionamento, o condomínio testemunhou o crescimento da Capital e registrou histórias que permanecem vivas na memória da população

Fotografia: Arquivo Roberto Higa


A história de um dos prédios mais importantes do município de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, a Estação Rodoviária Heitor Eduardo Laburu, foi retratada como um ponto de chegadas e partidas (Terminal Rodoviário) e por abrigar um dos centros comerciais mais modernos da época. Inaugurado oficialmente em 16 de outubro de 1976 iniciou as atividades de ponto de transbordo três anos antes com plataformas urbanas e interurbanas. Localizado no quadrilátero das ruas: Dom Aquino, Barão do Rio Branco, Vasconcelos Fernandes e Joaquim Nabuco, no bairro Amambaí, o Centro Comercial Condomínio Terminal do Oeste e seus condôminos foram testemunhas vivas do desenvolvimento de uma cidade próspera e que registra atualmente 874.210 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O condomínio possui 235 salas comerciais e duas salas de cinema e segundo levantamento interno da administração, recebeu no período de 1994 a 2008 mais de 11,5 milhões de passageiros, sem contar os frequentadores que passavam pelo local. No mesmo período circulavam diariamente, cerca de duas mil pessoas e 500 ônibus urbanos, intermunicipais e interestaduais.


Milton Luz Belo está no local desde 1976
Pioneirismo – Um dos personagens que acompanharam a construção do prédio é o empresário e advogado, Milton Luz Belo, 74 anos. Ele conta que inaugurou sua sala em 1976 e recorda os vizinhos do condomínio que acreditaram no potencial do centro comercial. “Três instituições bancárias, companhia telefônica, táxi aéreo, lojas de diversos segmentos varejistas e um escritório do jornal Correio do Estado. Na época foi o maior empreendimento da cidade, pois não existia um centro comercial desse porte. O posto de parada dos ônibus ficava na calçada do Hotel Gaspar, na Avenida Calógeras”, recorda. Belo fez parte da equipe que acompanhou o andamento da obra iniciada em 1967 e inaugurada nove anos depois. Na avaliação do empresário, o projeto do professor Heitor Eduardo Laburu era muito arrojado e com um pensamento focado no futuro da região que faz fronteira seca com o Paraguai e a Bolívia. “O sonho do professor Heitor era promover uma conexão da região Centro-Oeste com esses dois países tão próximos de nosso Estado. Ele era uma pessoa com uma visão enorme e muito a frente daquele tempo. Se tivesse concluído seu intento, teríamos uma realidade muito melhor na nos dias de hoje”, argumenta. O prefeito de Campo Grande na época, era Plínio Barbosa Martins, que aprovou um decreto concedendo aos irmãos Laburu, o direito de construir o prédio no local que tinha poucas casas. “O estado ainda não tinha sido dividido era Mato Grosso e a área foi escolhida por ser um lugar central da cidade e que dentro do mapa cartográfico era considerado o local mais central. O empreendimento oferecia escoamento necessário e recebia todas as entradas do município que vinham para Capital”, acrescenta o empresário.

Esperança – A melancolia toma conta de Belo quando recorda os tempos áureos da Antiga Rodoviária. São recordações de quem vivenciou cada etapa, participou das mudanças e também da angústia dos comerciantes quando o novo terminal foi inaugurado em 2010. Questionado sobre mudança ele responde com sabedoria de quem acompanha a evolução e o progresso das cidades brasileiras, traçando uma análise que conjuga economia e sociedade. “Quem dita as normas do sistema econômico e financeiro é o mercado, não somos nós. A evasão não aconteceu somente aqui no Centro Comercial, mas, também no centro da cidade. Atualmente temos três shoppings em funcionamento e a inauguração do primeiro, o Campo Grande, impactou fortemente aqui em nosso prédio. A situação que nós brasileiros enfrentamos é delicada e ainda deve perdurar por alguns anos. Falando do prédio temos que pensar e planejar o que pode ser feito para viabilizar uma reforma que terá alto custo e atrair investidores novamente para cá, este é o nosso grande desafio”, observa.

Cenário atual – O empresário comenta com pesar o estigma que a região enfrenta em razão de alguns frequentadores em situação de rua que transitam pelo local. “Esse processo começou com a saída da Rodoviária e a evasão de vários comércios para outros locais. No entanto, são pessoas que precisam de ajuda, pois, antigamente o uso de entorpecentes não tinha a facilidade que possui hoje. O que acontece aqui é um problema de toda sociedade campo-grandense, pois, é preciso enxergar a situação como um caso de saúde pública e que merece mais atenção do poder público. Essas pessoas que frequentam o entorno estão doentes, desempregadas, sem famílias e um local para morarem com dignidade”, desabafa. Ao final da entrevista, Belo deixa uma mensagem para as câmeras do projeto T’Amo na Rodoviária: “Há 52 anos labuto nessa casa e sou sincero em dizer à população que nunca sofremos violência aqui. Continuamos no prédio por que acreditamos no projeto inicial do empreendimento e espero que consigamos reverter o quadro de evasão. Nosso desejo é de que a comunidade confie em nós e estaremos sempre de braços abertos para receber a todos”, finaliza.

* O empresário Milton Belo é um dos personagens “reais” que aceitou participar do documentário e que estará no material audiovisual. Acompanhe conosco a história, opinião e avaliação de profissionais que podem contribuir para a mudança da Antiga Rodoviária, um local que faz parte da jornada de muitas famílias de Campo Grande e do interior do Estado.

Texto: Aline Oliveira - DRT 044/MS
Fotografia: Cátia Santos 
                 Carlota Philippsen